Para chegar a descoberta, camundongos foram colocados para fazer natação durante quatro semanas.
Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) investigou o processo de cronificação da dor muscular (quando ela passa de aguda para crônica), e identificou um dos mecanismos pelos quais a prática de atividade física previne essa transição, protegendo o organismo da inflamação e da dor persistente. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica PLOS ONE.
“A gente conseguiu caracterizar uma proteína que fica na membrana cerebral desse macrófago e que ativa uma via de finalização, que contribui para que aconteça a transição da fase aguda em fase crônica da dor muscular. […] Vimos que o exercício feito previamente ao estímulo inflamatório, como medida de prevenção, ele de alguma forma previne essa via [de inflamação] de ser ativada”, explica a professora Maria Cláudia Gonçalves de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Estudos em Dor e Inflamação (Labedi) da Unicamp e autora do artigo.
Para chegar a descoberta, os cientistas realizaram experimentos com camundongos. Os animais foram colocados para fazer natação durante quatro semanas. Na sequência, eles receberam um estímulo inflamatório diretamente no músculo, causando uma dor aguda com tendência a evoluir para um quadro crônico.
Desta forma, os pesquisadores notaram que os camundongos que haviam feito natação não desenvolveram dores crônicas, ao contrário daqueles não fizeram o exercício físico.
De acordo com a professora, esse efeito está relacionado a dois protagonistas moleculares:
o receptor P2X4, presente nas células de defesa, que desencadeia a dor crônica muscular e a PPAR-Gama, proteína que parece atuar como um “freio” nesse processo e é ativada com o exercício.
“Percebemos que, de alguma forma, se atuarmos sobre o receptor P2X4, talvez a gente consiga contribuir com a indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos mais específicos para essa proteína em si ou usar o PPAR-Gama como coadjuvante à prática regular de exercício físico para minimizar a dor crônica”, explica.
A pesquisadora conta ainda que entender como a dor crônica acontece é o primeiro passo para desenvolver medicamentos mais eficientes e com menos efeitos colaterais.
“Sentir dor é importante, porque a dor é um sinal que o corpo nos emite para que a gente possa se proteger de lesões. Mas uma vez que essa dor se torna crônica, ela não é mais um sinal de proteção, ela é uma doença. Então prevenir que essa dor se torne crônica é fundamental”, completa.
O próximo passo agora é estudar como essas vias celulares interagem e também analisar se o exercício pode ser utilizado como tratamento a partir do momento em que acontece a dor crônica, além da prevenção.
O estudo contou com o apoio da Fapesp por meio de dois projetos (21/02921-2 e 18/13599-1).
Estudo foi realizado por cientistas da Unicamp
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