Estudos recentes revelam medicamentos e exames que ajudam a controlar melhor a doença. Apesar do acesso ainda ser um desafio, o futuro é promissor
O câncer de mama é o que mais causa a morte de mulheres no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,3 milhões de novos casos são diagnosticados todos os anos. Por aqui, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 73 mil novos diagnósticos em 2025. Mesmo com os avanços no tratamento, mais de 15 mil brasileiras ainda morrem por ano em decorrência da doença.
Quando se fala em tratamento do câncer de mama, existem três grandes vertentes: a cirurgia, ainda essencial para a cura da maioria das pacientes; a radioterapia, usada em cerca de 60% dos casos como complemento; e a terapia sistêmica, composta por medicamentos que aumentam as chances de cura.
O câncer de mama é categorizado em três grandes subgrupos que norteiam a escolha inicial da terapia: tumores com receptores hormonais positivos (ER+), tumores com HER2 positivo (proteína que desempenha um papel crucial no crescimento e desenvolvimento das células) e os chamados triplo negativos, em que as células cancerígenas não têm receptores de estrogênio, progesterona, nem da HER2.
Nos estágios avançados, quando o tumor se espalha para outros órgãos, as chances de cura diminuem. É justamente nesse cenário que se concentram algumas das inovações mais promissoras da oncologia, apresentadas na última edição do congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), maior evento global da área, que reuniu 45 mil médicos e pesquisadores em Chicago, nos Estados Unidos, entre 30 de maio e 3 de junho.
Entre os destaques estão estratégias mais individualizadas, baseadas em testes de sangue e novas moléculas que ampliam o tempo de controle da doença, reduzem efeitos colaterais e antecipam decisões terapêuticas. A seguir, conheça três resultados que merecem atenção:
- tratamento precoce guiado por biópsia líquida;
- nova droga oral contra resistência hormonal;
- “drogas inteligentes” na primeira linha de tratamento.
Acesso ainda é o principal desafio
Apesar do entusiasmo, a distância entre inovação e realidade clínica ainda é grande. O caminho até que uma nova terapia esteja disponível na prática passa por etapas regulatórias, análises de custo-efetividade, negociação com os sistemas público e privado e por barreiras estruturais que afetam o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento.
No Brasil, mesmo medicamentos já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem sempre chegam à população com a rapidez necessária. É o caso do trastuzumabe deruxtecano, aprovado em 2024, mas ainda não incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), cerca de 70% dos pacientes oncológicos no país dependem exclusivamente do sistema público. Mesmo entre os que têm plano de saúde, nem sempre há garantia de cobertura para terapias de alto custo — nos Estados Unidos, o tratamento com o trastuzumabe deruxtecano pode chegar a US$ 166 mil por ano.
Apesar dos desafios no acesso e na incorporação de novas terapias, o cenário da oncologia vive um momento otimista. As descobertas recentes ampliam o período de controle da doença ao mesmo tempo em que abrem perspectivas de cura em casos para os quais isso antes não era cogitado.
Nos estágios iniciais, os tratamentos estão se tornando menos invasivos e mais eficazes, com cirurgias menores, menos necessidade de radioterapia e protocolos pré-operatórios mais leves. Já nos quadros avançados, novas drogas vêm prolongando a sobrevida e oferecendo mais qualidade de vida às pacientes — uma mudança de paradigma que tende a consolidar-se nos próximos anos.
Fonte: Revista Galileu
Novos tratamentos podem ampliar o tempo de controle da doença, reduzem efeitos colaterais e antecipam decisões terapêuticas — Foto: Andrea Piacquadio / Pexels